Viver no Meu reino significa viver no círculo da eternidade. “Este mundo” é o mundo da humanidade, mas o Meu reino é de natureza completamente diferente.
O Meu reino não é o reino da saúde física. O Meu reino
não é o reino das riquezas materiais. Todos sabemos o que constitui a saúde
física, mas o que vem a ser a saúde do Meu reino? Que vem a ser a saúde do Reino
espiritual? Que é o estado de saúde de Deus e o estado de saúde do
filho de Deus?
Nós sabemos do que são constituídos o
suprimento e a saúde materiais, mas que são as riquezas celestiais? Quais são as
riquezas celestiais de que somos herdeiros e ainda não estamos compartilhando no
cenário humano? Elas nada podem ter a ver com coisas tais como dinheiro,
investimentos ou propriedades, porque “o Meu reino não é deste
mundo”.No caminho espiritual, portanto, não há sentido
irmos ao “Meu reino” para obter algo para este mundo.
Devemos,
primeiramente, buscar o reino de Deus; devemos aprender a orar de forma que
orando a Deus do Espírito, estaremos orando apenas por riquezas celestiais,
saúde espiritual e companhia espiritual.
Enquanto estivermos tentando
obter riquezas materiais, saúde física ou companhia humana, estas coisas poderão
ser conquistadas, e serão às vezes bem e às vezes mal, pois, toda materialidade
é feita da crença em dois poderes – o bem e o mal. Porém, se mantivermos nossa
consciência afinada com a Realidade espiritual e conservarmos nossos desejos no
plano do Ser e da Forma espirituais, iremos experienciar a alegria e a paz da
unidade espiritual.
Procurar conhecer a natureza das riquezas celestiais,
da saúde espiritual e da companhia espiritual, não significa buscar algo de
natureza humana ou material; antes, significa repousar na Graça do Reino
espiritual.
A palavra “Graça” não pode ser traduzida por coisas como dinheiro,
lar ou família. Precisamos manter o sentido da palavra “Graça” em seu devido
lugar, e se este significado não estiver sendo entendido por nós, podemos sempre
orar para que Deus revele Sua Graça para nós.
A libertação de
problemas antes que tenhamos atingido a sabedoria espiritual meramente abre
caminho para outro problema, ou sete problemas, até que sejamos
compelidos a orar corretamente. Por exemplo, se uma dor de cabeça ou outro mal
qualquer puder ser removido, sem nos exigir um avanço em compreensão espiritual,
o que teremos ganho, senão apenas um período sem uma dor de cabeça? Mais cedo ou
mais tarde, uma outra surgirá, e eventualmente, seremos forçados a
parar e perceber que este problema permanecerá conosco sempre, a menos que seja
encarado com a sabedoria necessária.
Da mesma forma como Jacó
discutiu a noite toda com o anjo, rogando que não o deixasse sem que ele antes
recebesse sua iluminação ou a verdade espiritual necessária para vencer, assim
também nós devemos permanecer em oração.
Somente os nossos problemas nos
compelem a buscar o bem espiritual. Em sua maioria, os seres humanos estão
satisfeitos com boa saúde, uma provisão suficiente e uma moderada felicidade na
vida familiar, e quando tais necessidades são atendidas, muitos sentem que resta
muito pouca coisa a ser desejada na vida. Mas, aqueles a quem foram confiados
problemas, não por Deus, mas pela ignorância de Deus, e se veem forçados a
passar por várias experiências, sabem que sem elas nunca teriam se erguido acima
do nível de bons seres humanos.
Viver a vida espiritual e
orar de modo correto significa pormos de lado o problema e começarmos com a
realização de que o reino de Deus não é deste mundo, e
assim se tornará inútil orar por algo que seja deste mundo.
Vamos, portanto, aprender a orar por aquelas coisas que são do Meu
reino, e buscar unicamente a graça daquele reino.
Nossa
função, no caminho espiritual, é aprender em que consiste o reino de Deus.
Isaías disse: “Cessai, pois, de confiar no homem, em cujas narinas há um
sopro, porque somente Deus é que é o Excelso”.
O ser humano é aquele homem
“em cujas narinas há um sopro”. Por que deveríamos, então, pensar em formas de
tornar aquele homem melhor, mais saudável ou mais rico? Por que pensar sobre
ele, quando podemos pensar sobre o filho de Deus? Mas antes, precisamos saber o
que é o filho de Deus.
Os antigos gregos diziam: “Homem, conhece-te a
ti mesmo”. Esse “Ti” não é outro senão o filho de Deus em nós. Há uma
parte de nosso ser, uma área de nossa consciência, que é o filho de Deus; e
quantos de nós possui qualquer conhecimento dessa parte do ser, ou possui
qualquer familiaridade com este nosso Eu mais íntimo? Como poderemos conhecer
aquele filho de Deus em nós?
Somente nos volvendo para nosso interior, onde o
reino de Deus está, reservando um tempo para ficarmos a sós e buscando o reino
de Deus dentro de nós. Se formos pedir algo a Deus, então peçamos a
Deus que Se revele, que mostre o filho de Deus em nós, que revele a natureza de
Sua graça e do reino espiritual e a natureza das riquezas celestiais das quais
somos herdeiros.
Ao nos dedicarmos à busca desse reino
espiritual, descobriremos nosso mundo exterior se ajustando em seu lugar por si
mesmo; as coisas começam a acontecer; e, de repente, despertamos para a
descoberta de que a graça de Deus nos tem trazido algo de natureza incomum na
forma de cura, suprimento, companhia, ou de um instrutor para abrir os nossos
olhos. Mas estes não vêm enquanto estivermos orando por eles. Surgem, não devido
aos nossos pensamentos ou orações, mas pela retirada deles de nossos
pensamentos, deixando Deus cuidar de nossas necessidades à Sua maneira, enquanto
centralizamos nossa atenção naquilo que o reino realizado de Deus é.
Todas as coisas duradouras do reino material nos são acrescentadas
quando não oramos por elas, quando buscamos somente o Reino, quando nosso
pensamento não está mais nas coisas “deste mundo”, mas está centralizado no
reino espiritual.
Quando tivermos progredido o suficiente
neste Caminho, seremos também tentados, como foi o Mestre, a usar o poder
espiritual, e é quando precisaremos resistir à tentação de realizar milagres e
sermos guiados pela sabedoria espiritual do Mestre, de não glorificar ou nutrir
o ego. Se pudéssemos transformar pedra em pão, não precisaríamos de Deus, e nós,
que trilhamos este caminho espiritual, preferimos ficar famintos a procurar
nossos próprios recursos sem recorrermos a Deus. Seria trágico chegar ao ponto
de acreditar termos atingido uma elevação tal em que Deus deixasse de ter mais
lugar em nossa vida. Então, melhor que tentar realizar um milagre, que seria uma
mostra de nosso poder, será deixarmos a tentação de orar mentalmente por
pessoas, condições ou circunstâncias, e fazer de nossa vida uma prece de busca
espiritual e graça espiritual e uma prece para compreensão da natureza das
riquezas espirituais e preenchimento espiritual. Que significa este
preenchimento? Que significa “em tua presença está a alegria plena”? Como pode
aquela plenitude ser interpretada e expressa? Que é a totalidade de Deus?
Quando
buscamos a compreensão desta sabedoria espiritual, todas as coisas nos são
acrescentadas, aparecendo em seu devido tempo, sem os nossos pensamentos;
precisamos apenas realizar tudo o que nos é dado fazer a cada hora de cada dia,
e realizá-lo dando o máximo de nossa habilidade, mantendo a nossa mente
centralizada em Deus, nas coisas de Deus e no reino de Deus.
Como temos
apontado, um dos princípios básicos da vida espiritual é que, para a
consciência transcendental, o poder temporal não é poder, tanto de natureza
mental como física. Somente a Graça de Deus é
poder, somente a consciência realizada da Unidade, do poder uno e
do não-poder de tudo mais além de Deus. As preces falham porque têm sido uma
tentativa de vencer um poder temporário que na realidade não é poder. Tais
preces são o mesmo que tentar vencer uma miragem no deserto ou tentar vencer um
fato em que duas vezes dois sejam cinco. Como seria possível usar um poder sobre
uma não-existência?
O mundo humano está repleto de poderes temporais: doença,
dinheiro, política, guerra e preparativos para a guerra. Persistir na velha
prece de “Ó, Deus, vença nossos inimigos!” será perda de precioso tempo e
energia, pois, tais preces jamais tiveram nem terão sucesso algum.
O
esforço físico e mental, e finalmente a intenção de usar Deus para dominar os
males deste mundo, devem falhar, porque eles não são poder e não precisam ser
vencidos. Unicamente a nossa aceitação da crença universal de que o
mal é poder é que pode provocar nossa permanência prolongada nas condições
malignas. No instante em que aceitamos a Deus como
Onipotência, nosso problema começa a desaparecer.
Quando
percebermos que o Cristo-reino não é deste mundo e ainda que aquele
Reino é o único poder no mundo, então, quando formos apresentados
a uma aparência do mal, não importando o que ou quem possa ser ela, nós
pararemos e nos perguntaremos: “Isto é poder espiritual? Esse mal é poder de
Deus? Pode haver um poder do mal vindo de Deus? Tal pretensão de poder não é,
portanto, apenas poder temporal?”
O ensinamento integral do Mestre foi a
revelação do não-poder daquelas coisas que apareciam como poder. Ao homem cego,
ele disse: “Abre teus olhos”; sabia que não havia poder para mantê-los fechados.
Ao homem de mão mirrada, ele foi capaz de dizer: “Estende tua mão”; sabia que
não existia um poder que tolhesse a mão dele.
O ministério inteiro de Jesus foi a revelação de que o chamado “este mundo”, enquanto existente, – e lhe foi dada a missão de dissolvê-lo – não existe como poder, existindo tão somente como uma aparência.
Esta realização nos possibilita ficarmos sentados em quietude e em secreto, discernindo:
Deus, somente, é
poder. Isso que me tem confundido, e com que venho lutando, é uma aparência que
retenho em meu pensamento como uma imagem mental; não é realmente uma coisa. Eu
não posso vencer uma batalha contra o nada, mas posso relaxar-me em quietude e
em secreto, e perceber que esse quadro com que estou me deparando nada mais é
que um quadro – não uma pessoa ou uma condição, mesmo que ele possa aparecer
como pessoa ou como condição.
Tão logo reconheçamos o mal
como um poder temporal, podemos sorrir internamente e perceber o seu significado
como não-poder, pois aquilo que não é de Deus não é poder. Deus nos deu o
domínio sobre tudo que existe e, portanto, isto que aparece como poder é
temporal. Todo poder é invisível. Este perigo que é
tão aparente e visível não pode ser poder e não pode ser de Deus.
E ao
sentarmo-nos ao lado de uma pessoa doente, conscientizando: “Eu não dou poder a
essa doença, a esse pecado ou falso desejo. Isto é poder temporal, ou seja, não
é poder, e eu não acreditarei nele”, iremos notar a sua melhora, e saberemos ter
comprovado, mesmo em pequena escala, que o poder temporal não é poder sob
qualquer forma.
A vida espiritual não nos leva a vencer o
mal, mas ao reconhecimento da natureza do mal: o mal não tem
nenhuma direção de Deus; o mal não tem nenhuma lei de Deus para mantê-lo; o mal
não tem nenhuma Deus-existência, Deus-objetivo, Deus-vida, Deus-substância ou
Deus-lei: ele é temporal, o “braço de carne”, ou o nada.
Enquanto orarmos
para que um poder divino vença o mal, estaremos resistindo a ele, mas se
estivermos ancorados na verdade, repousamos na realização de que essa coisa que
nos encara é uma miragem, não um poder, e que não precisamos temer o que o homem
mortal nos possa fazer ou o que ele possa pensar ou ser. Todo o temor do poder
mortal é dissolvido – poder temporal, poder material, leis de infecção ou
contágio, calendários ou idade – porque sabemos que nada do reino dos efeitos é
poder. Todo poder é invisível, e o que está aparecendo a nós como
poder é uma imagem mental no pensamento, um quadro, um conceito errado de
poder.
O conhecimento dessa verdade nos torna
livres; mas, enquanto a estivermos conhecendo, nossos pensamentos e ações devem
estar de acordo com a verdade que estamos conhecendo. Não podemos
negar o poder do efeito e logo no minuto seguinte cedermos a ele, ou falando
claramente, não podemos negar o poder do efeito e depois odiar ou
temer alguém, já que ele é parte daquele efeito.
Se formos
incapazes de fazer isso em cem por cento, ou se ocasionalmente falharmos, não
devemos ficar desencorajados. É quase impossível alguém mudar da noite para o
dia de um estado de consciência material para um estado de consciência
espiritual, ou tornar-se integralmente ou totalmente espiritual após somente um
ou dois anos de meditação.
Sejamos agradecidos ao fato de que, após
termos posto os pés no caminho espiritual, passamos a viver dessa maneira,
atingindo em alguma medida aquela “mente que estava também em Cristo Jesus”, e,
nessa mesma medida, embora pequena, demonstrando externamente seus frutos. Não
estamos na expectativa de atingir a Cristicidade de um único salto, mas de ir
atingindo aquela Mente Crística pela dedicação diária a esse tipo de prece e
meditação.
Ao visualizarmos o universo temporal, deveremos conscientizar:
“Este mundo não é para ser
temido,
odiado ou amado: isto é a ilusão; e, exatamente onde está a
ilusão, é o reino de Deus, o Meu reino.
Meu reino é a
realidade. Isto que meus olhos veem e meus ouvidos ouvem é uma contrafação
superposta, não existente como um mundo, mas como um conceito, um conceito de
poder temporal.
O Meu reino está intacto;
o Meu reino é o reino de
Deus;
o Meu reino é o reino dos filhos de Deus;
e o Meu reino está aqui
e agora.
Tudo que existe como um universo temporal é
sem poder.
Não preciso odiá-lo, temê-lo ou condená-lo; preciso
somente compreendê-lo."
Ao sermos capazes de compreender a NATUREZA do universo espiritual, as formas deste mundo começarão a desaparecer : formas de doença, pecado, falsos desejos, falta e limitação. Todas elas irão sumir, dando lugar às condições e relacionamentos harmoniosos, que serão manifestados de nosso estado de consciência mais elevado.
Nosso mundo é a exteriorização de nosso estado de consciência; o que semearmos, colheremos. Se semearmos na carne, colheremos corrupção: pecado, doença, morte, falta e limitação. Se semearmos no Espírito, colheremos a vida eterna.
A palavra “semear” pode ser interpretada como “ser consciente de”.
Se estivermos conscientes de que o reino espiritual é o real, enquanto aquele testemunhado pelos cinco sentidos é sem poder, temporal, o “braço de carne”, estaremos semeando no Espírito e colheremos harmonia no corpo, na mente, no bolso e nos relacionamentos humanos.
Se continuarmos a temer o ”homem em cujas narinas há um sopro”, se continuarmos a temer infecção, contágio e epidemias, estamos semeando na carne; por sua vez, se percebermos que todo o poder está no invisível, estaremos semeando no Espírito, e colheremos a harmonia divina.
O Meu reino, o Cristo-reino, é o real, e ele é poder. Tudo que nós vemos, ouvimos, provamos, tocamos e cheiramos, o reino temporal, é a ilusão, e não é poder.
O caminho espiritual é o solo de treinamento onde nós adquirimos a convicção de que o mundo temporal está apresentando meramente um quadro de poder temporal, e poder temporal não é poder. O Invisível, somente, é poder; o Invisível que constitui o Eu que realmente somos.
Vamos considerar aquela ideia em relação ao nosso corpo. Porque nosso corpo é visível, não existe poder nele; ele não pode ser saudável ou doente; o poder está no Eu que nós somos.
Se acreditarmos que este corpo tem poder, estaremos dando poder ao universo temporal. Olhando para o mundo finito e para o corpo finito, poderemos mudar inteiramente a nossa experiência pela conscientização:
"Como você é efeito, o poder não está em você; o poder não está nesse corpo, e meu corpo não pode responder-me. Eu falo a ele, e lhe asseguro que Eu sou sua vida, Eu sou sua inteligência, Eu sou sua substância, Eu sou sua lei – aquele Eu que Eu Sou" – e então, o corpo tem que obedecer."
Esta prática nos faz abandonar a busca pelo bem material. Não estamos pensando em termos de melhor corpo físico; antes, estamos “ausentes do corpo, e…presentes com o Senhor”, e toda a nossa atenção se volta em direção à harmonia espiritual, não para um melhor relacionamento humano, não para melhor saúde, não para mais dinheiro, mas para a paz e a harmonia do Meu reino:
“Meu reino impera aqui – não um bem humano e não um mal humano
– mas Meu reino, o reino de Deus. Se existe algum mal humano aqui, algum pecado,
ódio, inveja, ciúme ou malícia, o que é dele? Ele não é pessoa nem poder. Ele
não pode ser manifesto; e, portanto, tem que morrer pela sua própria nulidade.
Ele é temporal e impessoal; jamais possui uma pessoa em quem ou através de quem
possa se manifestar. Ele é o 'braço de carne', ou o nada. O amor
divino, não o amor humano, é o único poder operando neste lugar em que Eu estou.
A sabedoria divina, não a inteligência humana, é o único poder operando em minha
vida."
Assim, mais e mais a nossa atenção vai sendo centralizada no reino de Deus e Sua graça, em vez de na forma e efeito; e então, assim que estivermos ausentes - não focados- no corpo da forma e do efeito, aquele corpo, a forma e o efeito aparecerão harmoniosamente.
Joel Goldsmith
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