Em seguida,
foi Jesus levado pelo espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo.
Jejuou
quarenta dias e quarenta noites.
Depois teve fome.
Então se
aproximou dele o tentador e disse-lhe:
Se és Filho de Deus,
manda que estas
pedras se convertam em pão.
Respondeu-lhe
Jesus:
Está escrito:
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai
da boca de Deus.
Vemos aqui o
grande e profundo significado da tentação. Esta passagem mostra o exemplo
típico de fidelidade à essência de todos estes ensinamentos, ante à tentação
que sentimos de concentrar o pensamento e a atenção nas coisas deste mundo,
isto é, nas necessidades externas, e demonstrar o poder de produzir efeitos
extraordinários, como a provisão de alimentos mediante a operação de um milagre.
Jesus sabia que essa não era a maneira de se demonstrar a presença de Deus como
suprimento de nossas necessidades.
O meio de demonstrá-la consiste em se viver
permanentemente numa atitude interna que se pode traduzir nestes termos: Uma
vez que Deus é consciência divina, e que a consciência é a substância e
atividade criadora de todas as formas, enquanto eu viver, me mover e tiver ao
meu ser como consciência espiritual, todas as formas de suprimento aparecerão
sem que eu me preocupe com elas. Esta era a resposta de Jesus a todas as
tentações.
Esta deve ser
também a tua resposta. Em vez de trabalhar, isto é, de fazer trabalho mental,
quando se te apresente qualquer problema, lembra-te de que já aceitaste os dois
grandes mandamentos de Jesus: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao
que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir e
Buscai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua justiça (verdade), e
estas coisas vos serão dadas de acréscimo.
Quando te sentires tentado a usar
esta verdade para obter um emprego, ou para efetuar uma cura ou fazer alguma
coisa no plano externo, dize como Jesus, a ti mesmo:
Eu não vivo
somente de pão, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus. Não vivo de
suprimentos externos. Estes são coisas recebidas de acréscimo, que me vêm às
mãos espontaneamente, como um desdobramento natural do meu estado de
autorrealização em Deus, a Consciência divina, que está sempre Se manifestando
como minha consciência individual. Ela é a fonte do meu suprimento; logo, não
preciso fazer magia. Não preciso que o eu pessoal se arvore em demonstrador de
poderes. O único EU, o grande EU SOU, está governando, mantendo e sustendo Sua
própria imagem e semelhança. Se tentar fazer milagre, se tentar fazer demonstração
de poder, estarei criando um eu separado de Deus, revestindo-me, assim, de uma
personalidade que não é de Deus. Deus está sempre mantendo o que é Seu.
Por ceder à
tentação de demonstrar poderes é que a mente humana entra em conflito e cria
sofrimentos. Por exemplo, o filho pródigo, não estava
satisfeito em viver só dos bens de seu pai, e por isso, saiu de casa, partiu
para o mundo, com o desejo de abrir se próprio caminho na vida. E sabes como
acabou.
Na Antiguidade, deu-se à origem do mal o nome de “diabo”. O diabo não é nem nunca foi uma pessoa. O diabo, ou mal, é algo de natureza impessoal. É possível que ele apareça como pecado, delinquência juvenil, falso desejo, doença incurável, pobreza, ou morte.
Entretanto, seja qual for o nome ou natureza, aquilo que se põe à sua frente é um mal único.
Empregamos para ele a designação “mente carnal”, dada por Paulo, ou algum outro termo, como “aparência” - matéria, por exemplo.
A discórdia ou tentação não é uma entidade ou identidade física; ela é uma “aparência”, um produto da mente carnal: a crença em dois poderes.
Então o diabo
o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe:
Se és o Filho
de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Recomendou-te a seus anjos
que te guardem ... para que não tropeces em alguma pedra.
Replicou-lhe
Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
Se temos o
próprio Deus como nossa consciência, se Deus é a nossa Alma, Mente e o Ser que Somos, acaso precisaremos produzir anjos, alguma espécie de efeitos
extraordinários para nos segurar, amparar e ajudar?
Precisaremos de alguma
coisa além de Deus? Não nos tornaremos idólatras quando recorremos a algo que
não seja Deus, a algo menos que Deus para nos manter? Acaso não será isso
pecado contra o nosso próprio senso de vida espiritual?
Quando formos tentados
a recorrer ao homem cujo fôlego está no seu nariz, quando formos tentados a
confiar em alguma forma humana de Deus, ainda que nos pareça como um anjo,
lembremo-nos da tentação de Jesus. Perguntemo-nos a nós mesmos: Tenho alguma
necessidade de anjos? Necessito de algum auxílio? Necessito de alguma forma
menor de ajuda, mesmo que seja a do pensamento humano?
Ainda o diabo
o transportou a um monte muito elevado, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e
sua glória, e disse-lhe: Todas estas coisas te darei se, prostando-te em terra,
me adorares.
Ordenou-lhe
Jesus: Vai para trás, Satã, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás
e só a ele servirás!
Então o
diabo o deixou, e eis que vieram anjos e o serviram.
Quando compreender a Deus como Onipotência, estará habilitado a se livrar do mal sob todas as formas, mediante as seguintes palavras: “Nenhum
poder terás sobre mim, a não ser que tu venhas de Deus. Ao lado de Deus
não há nenhum outro poder; e o Poder divino é presente tanto no céu
como exatamente aqui onde eu estou.”
Joel S. Goldsmith