Algumas vezes os estudantes da ciência espiritual não se sentem felizes com o desinteresse pelas coisas do mundo, que surge quando prosseguem na busca. Sentem-se como se estivessem perdendo algo de valor. Seus tesouros de arte, seus animais de estimação e os velhos amigos já não lhes são tão importantes. Passam a encarar o mundo – o corpo e mesmo a vida – mais objetivamente. Perdem muitas das emoções que constituem grande parte da vida humana. Enquanto avançam pelo caminho espiritual, são reorientados quanto aos valores humanos, e assim não sofrem muito com os aspectos negativos da vida humana, mas também não se alegram tanto com as coisas boas, como outrora. As emoções ou sentimentos mundanos já não entram tanto em sua vida de rotina. Em compensação, há vantagens que ultrapassam em muito as perdas.
Quando nos tornamos espectadores, não olhamos a vida com ansiedade pelo que esteja para acontecer. Contemplamos o que Deus está fazendo. No caminho espiritual, ao acordar pela manhã o espectador se compenetra de que Este é o dia de Deus, este é o dia que o Senhor fez, e pergunta-se a si mesmo: Que experiência me trará hoje a atividade de Deus?
Nesta atitude objetiva, isenta de apego às coisas materiais, passamos o dia inteiro na expectativa de algo prestes a acontecer, na certeza de que o que quer que aconteça nesta hora, na próxima ou depois, terá sido produzido por Deus, será o efeito da Sua atividade.
Começamos então a conhecer por experiência própria certo estado de harmonia profunda, imutável, em que os efeitos externos já não nos interessem como em outros tempos: chegamos àquele nível de consciência que nos permite discernir espiritualmente a natureza ilusória das aparências boas ou más.
O interesse pelas aparências favorece e perpetua sua influencia hipnótica.
Pela manhã, ao meio-dia e à noite, precisamos afirmar intimamente nosso equilíbrio espiritual, baseados na compreensão de que no reino de Deus não existe bem nem mal, mas somente o Espírito, e que o bem e o mal que aparecem no reino deste mundo são igualmente ilusórios.
Se desejarmos efetuar uma demonstração espiritual da natureza do Cristo, ou seja de natureza cristã, não podemos preocupar-nos com aparências transitórias, mas precisamos apegar-nos à verdade espiritual, interna.
Embora incorpóreo e invisível à vista humana, o reino de Deus é real e tangível para aqueles que possuem visão espiritual para contemplá-lo.
A individualidade espiritual, inerente ao Reino de Deus, não pode ser vista a não ser pela percepção espiritual, ou seja, pela Consciência Crística que Somos.
Não podemos ver a identidade espiritual com nossos olhos físicos, mas, assim como Deus pode olhar a luz e as trevas e vê-las como uma só coisa, também os espiritualmente iluminados podem olhar para além das boas ou más condições humanas e contemplar as qualidades do Cristo.
De acordo com o ensino místico, nós não temos direito de olhar para um ser humano com o intuito de mudar o mal em bem, a doença em saúde ou a pobreza em abundância.
O que devemos fazer – e é imperioso que o façamos – é olhar para além das aparências e nos compenetrarmos de que:
Embora invisível aos meus olhos humanos, este é o Cristo, o filho de Deus. Não pretendo mudá-lo, melhorá-lo reformá-lo. Olho para além da aparência e me lembro de que embora não possa vê-la, o que aqui está é identidade espiritual.
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