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Em nenhuma parte do nosso universo pode existir imperfeição. É maravilhoso podermos chegar rapidamente à conclusão de que, sendo Deus o único Criador, não pode haver algo como um mortal.
Mas certamente concordamos com a Sra. Eddy, pois ela nunca quis dizer que uma invenção enganosa, mortal e material a respeito do homem pudesse ser o filho de Deus.
Devemos sentir-nos gratos por sabermos e compreendermos que não pode existir tal invenção enganosa e material a respeito do homem, pela simples razão de que não existe mortalidade para a exprimir.
Sabemos também que a Sra. Eddy queria que chegássemos a essa conclusão, pois ela afirma na continuação da frase acima citada: “Na prática da Ciência Cristã, devemos enunciar corretamente o seu Princípio, se não nos quisermos privar do poder de demonstrá-la.”
Recordemo-nos da resposta que o meu Professor deu; quando eu comparei a minha existência à do hindu: ele afirmou que ambas não representavam mais do que sonhos. Ouvimos muitas vezes dizer que a mortalidade é um sonho; talvez por isso, muitos Cientistas Cristãos sejam levados a aprovar conscientemente o fato de serem neste mesmo momento os filhos imortais de Deus, mas (e aqui temos de novo este tão nocivo mas) vivendo um sonho de vida na matéria. Acreditam igualmente que um dia se elevarão até à nulidade e irrealidade desse sonho e que nessa altura gozarão a verdadeira espiritualidade e imortalidade. A maioria associa o despertar deste sonho à sua própria morte. Não será então ridículo continuar a sonhar? Não será absurdo remeter para o futuro o despertar desse sonho? E incluirá o despertar desse sonho um acordar de um outro sonho — o sonho da morte?
O hino no 412 anuncia: “Ó sonhador, desperta do teu sonho, ó tu cativo, te ergue livre e são. O Cristo rasga o denso véu do erro e vem abrir as portas da prisão.”
As promessas de cura e libertação são muito inspirativas. Mas para além da sua beleza e inspiração, este hino inclui uma ordem específica para cada um de nós: “Vem dar-te alegria, em vez de pena, Beleza, em vez de cinzas da ilusão.” E nesta ordem nada nos sugere que deixemos para depois o abandono dos nossos sonhos e ilusões; pelo contrário, nos é garantido que o Cristo está agora em ação, “rasgando o denso véu do erro” e “abrindo as portas da prisão.”
Recentemente, vivi uma experiência que me mostrou a importância de abandonar imediatamente um sonho. Sonhei que me encontrava no último andar de um prédio com dois andares. Espreitando pela janela, vi um menino a brincar no topo de uma árvore; enquanto o observava, o ramo ao qual ele se segurava começou a balançar, embora estivesse ainda preso à árvore. O menino agarrava-se desesperadamente ao ramo, que oscilava para trás e para a frente. Então, abri a janela, debrucei-me e gritei: “Não tenhas medo! Não podes cair, porque estás seguro nos braços do Amor divino. Deus ama-te, é Ele quem te sustenta e protege, por isso não podes cair.” Assim que acabei de afirmar estas reconfortantes verdades, o ramo desprendeu-se da árvore e caiu, arrastando o menino para o chão. Desci então as escadas a correr, para ver que tipo de ajuda eu poderia prestar e fiquei bastante abalada ao ver o estado em que ele se encontrava. Mas nessa altura reagi. Oh, como eu estava grata por saber que essa experiência não era verdadeira! Agradeci a Deus por tudo não ter passado de um sonho e preparei-me para voltar a dormir.
Mas não conseguia adormecer; continuava a ver as imagens do menino agarrado ao ramo, quase a cair. Teria preferido que ele não tivesse trepado tão alto e sentia-me preocupada com os ferimentos resultantes da queda. Finalmente, acabei por me dar conta de que eu me interrogava acerca do porquê da Ciência Cristã não o ter impedido de cair. Foi então que compreendi o que estava a fazer. Afinal, eu ainda não acordara do sonho! Eu tinha-o reconhecido como um sonho, mas isso não havia sido suficiente, pois tinha ainda que o esquecer. Estava preocupada com algo que nunca tinha sucedido e ressentida com a queda de um ramo que nunca se partira. Não, não era suficiente ver apenas essa experiência como aquilo que ela parecia ser — um sonho. Era necessário ir mais além na minha forma de pensar e ver essa imagem como o “nada”, absolutamente inexistente, e só então esquecê-la como tal. Assim, alegrei-me por não existir sonho, visto não existir mente mortal para viver esse sonho. Só então, adormeci.
Na manhã seguinte, tentei tirar algumas conclusões sobre o que tinha sucedido. Ao longo do nosso estudo na Ciência Cristã, aprendemos a reconhecer os problemas como irreais. Chamamos à carência, à doença, à morte, a um acidente, etc., um erro, uma ilusão, um sonho, mesmerismo; mas será que os encaramos dessa forma? Não continuaremos a pensar nesse problema, tentando descobrir aquilo que o causou?
Será que não nos inquietamos, elaborando hipóteses sobre aquilo que os outros dele possam pensar? E por vezes, não sentiremos uma espécie de culpa, ao indagarmo-nos o porquê da Ciencia Cristã não ter efetuado a cura?
Ao tratar-se de problemas físicos, para acordar do sonho a Sra. Eddy aconselha-nos a volver o nosso olhar do corpo e a concentrar toda a nossa atenção na Verdade e no Amor. Recordam-se da experiência da senhora que sofreu um grave acidente de automóvel e foi atropelada por um caminhão? Ela acordou do seu sonho vendo apenas a realidade. Aquele que nega o erro e fixa o seu olhar somente no testemunho de Deus, não argumentando senão a partir do ponto da perfeição, não pode deixar de despertar do sonho.
A simples verdade de que não existe mente mortal para sonhar, é uma das mais significativas e poderosas verdades para nos ajudar a sair do sonho e a despertar para a realidade.
A propósito, de onde se origina o sonho? Dizemos que é um produto da mente mortal; mas o que é a mente mortal? Sendo Deus a única Mente, pode existir uma outra? Muitas e muitas vezes ouvimos e lemos que Deus é a única Mente, sendo a seguinte afirmação contida na Exposição Científica do Ser aquela utiuzada com mais frequência: “Tudo é Mente infinita e Sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo.” (C&S, pág. 468:10-11) Muitas e muitas vezes nos ensinaram que, sendo Deus a única Mente, não pode existir nenhuma outra, portanto não pode existir mente mortal.
A minha passagem preferida naquilo que concerne a não-existência da mente mortal encontra-se no nosso livro texto: “Falando cientificamente, não há mente mortal da qual se possam fazer crenças materiais, que se originem da ilusão.” (pág. 399: 25-26) Assim, a conclusão mais lógica e mais razoável a que podemos chegar é que, devido a não existir uma mente mortal que sonha, não pode existir sonho. Como devemos então agir quanto ao sonho de mortalidade? Não há mais verdade no fato de que somos mortais do que no sonho do menino a cair da árvore; não há mais verdade no sonho que afirma podermos ser sancionados no seio da mortalidade do que no sonho do menino a cair da árvore; não há mais verdade no sonho que afirma termos estagnado na aplicação da Ciência Cristã do que no sonho do menino a cair da árvore. Consideram-se então satisfeitos por considerar a mortalidade como um sonho e por continuar a viver no seio dessa mortalidade? É evidente que não. Acordemos então do sonho para um alegre despertar. Além do mais, é mais fácil despertar do sonho depois de sabermos que não existe mente mortal para o sonhar. O nosso alegre despertar resume-se na experiência gloriosa da imortalidade trazida à luz na nossa consciência individual. Encaremos então a realidade da imortalidade de frente, regozijemo-nos com ela e vivamo-la!
Dorothy Rieke.