Tenho aqui um relógio.
Vamos supor que cada um de nós seja uma peça de sua engrenagem.
Se uma peça da engrenagem pensasse "movendo-me incessantemente, sofrerei desgaste; vou tratar de me preservar, para não me desgastar" e resolvesse parar, ocorreria atrito com outras peças, e aí é que ela sofreria, de fato, um sério desgaste.
O mesmo acontece com o ser humano. Se estamos tolhidos pela sensação de "isolamento material" entre nós e os outros, proveniente da ideia de delimitar o campo de atuação da "peça de engrenagem", que se chama "eu", precisamos abandonar essa ideia causadora de tolhimento.
Precisamos nos conscientizar de que "não existe peça de engrenagem denominada eu".
Devemos compreender que, embora pareça existir a peça de engrenagem chamada "eu", ela não existe por si só.
O que existe é o "todo", que, no exemplo do relógio, corresponde ao mecanismo geral.
O "eu" só existe em função do "todo".
O fabricante de relógios não fabrica peças de engrenagem para fazê-las funcionar isoladamente, e sim como parte do mecanismo do todo.
Cada um de nós é comparável a uma peça de engrenagem de um relógio.
Precisamos abandonar a ideia de que "cada indivíduo existe independentemente dos outros e tem o direito de viver apenas em função de si mesmo"; devemos abandonar o pensamento egocêntrico de querer viver apenas em função do nosso "eu" – que na verdade não existe –, de tentar traçar limite entre nós e os outros, e compreender que a "peça de engrenagem, por si só, é como se não existisse; existe unicamente o relógio, como um todo", ou seja, compreender que "cada um existe em função do todo".
Comparando cada ser humano à peça da engrenagem de um relógio, podemos dizer que, na maioria dos casos, reconhecemos apenas a existência de "peças" e esquecemos a existência do "relógio". Isto é, reconhecemos nossa existência como "indivíduos", mas esquecemo-nos da existência do universo, da nação e da humanidade, que é o "todo".
Por isso, tendemos a nos preocupar somente conosco mesmos. Isso é ilusão.
Devemos deixar de nos preocupar apenas com as "peças de engrenagem", ou seja, indivíduos – conscientizando-nos de que "as peças só existem em função do aparelho todo", isto é, "os indivíduos existem em função do universo, da nação e da humanidade, que é o todo".
O ser humano enquanto indivíduo, visível aos olhos físicos não existe de verdade.
O que existe de verdade é a humanidade, a nação, a Vida do Grande Universo. É necessário compreender isso.
Devemos compreender que não existe o "eu" isolado do todo; devemos nos conscientizar da nossa "insubstancialidade".
Porém, isso não significa passar a ter pensamentos tais como: "Não importa o que possa acontecer comigo, pois eu não sou existência verdadeira".
Pensar desse modo é como emperrar a peça de uma engrenagem, ou seja, ficar com a mente tolhida pela ideia errônea acerca da "inexistência do eu isolado do todo".
Tal ideia dificulta o bom funcionamento do todo, da mesma forma que uma peça de engrenagem, ao ficar emperrada, impede o bom funcionamento total do relógio.
Comparando-nos a peças da engrenagem de um relógio, podemos dizer o seguinte: antes de mais nada, devemos compreender que "as peças existem em função do aparelho todo; portanto, somente o relógio existe de verdade".
Uma vez que tivermos compreendido isso, devemos executar plenamente nossas funções no "mecanismo do relógio como um todo", sem criar atritos.
Assim, o "relógio" funciona perfeitamente, e as "peças", por sua vez, não se desgastam e têm longa vida.
Devemos, pois, compreender que não existe o "eu fenomênico" – um indivíduo independente do todo –, e sim o "Eu verdadeiro" que é parte do universo infinito. Nisso consiste o redescobrimento do "Eu". Trata-se de deixar o "eu fenomênico" e encontrar o "Eu verdadeiro"."
Masaharu Taniguchi
Lindo Lindo Amei
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