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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

DA LEI PARA A GRAÇA - 2






No sermão da Montanha Jesus resume as diferenças entre o judaísmo e os novos ensinamentos, que não eram ainda conhecidos como cristianismo, mas como ensinamentos de um Mestre hebreu, livre-pensador e radical.

E o que eram os ensinamentos desse homem, que foi sem dúvida o mais iluminado e espiritualmente desenvolvido dos que foram conhecidos, tão iluminado que o mundo de hoje gira praticamente em torno de seus ensinamentos?

A palavra Graça nos revela o que eles são. 

A Lei veio por Moisés, “mas a Graça e a Verdade vieram por Jesus Cristo”. 

Tais Graças e Verdade representam algo inteiramente diferente daquilo que a Lei representa. E assim, por três séculos após o ministério de Jesus, havia pessoas andando pela Terra Santa, cruzando por Roma e Grécia, ensinando e pregando não a Lei como está assentada na fé judaica, mas algo novo, deslumbrante, algo diferente chamado Graça e Verdade, algo que aos poucos foi sendo conhecido como ensinamento do cristianismo. 

Os primeiros seguidores de tais ensinamentos eram chamados judeus-cristãos, pois eram judeus seguidores do Cristo. De fato naqueles tempos iniciais apenas aqueles que eram judeus podiam tornar-se cristãos. Porém, finalmente Paulo e Pedro perceberam que os ensinamentos de Cristo eram bem mais que apenas um novo tipo de judaísmo. Eram algo único, algo separado e distinto em si mesmo, e aos poucos a não mais ser necessário ser antes hebreu para se tornar cristão, a circuncisão não foi mais necessária e outras práticas venerandas foram abandonadas. 

Os discípulos começaram a pregar para os gentios, avisando que os ensinamentos de Cristo eram universais pela sua própria natureza, até que chegou o dia em que até os pagãos de Roma e da Grécia, ou qualquer um, independentemente de sua origem, poderia, se o quisesse, se tornar cristão. E essa foi, durante séculos, a condição do ensinamento cristão, quando então ocorreu em dos eventos mais estranhos da história do mundo.

Organizou-se uma igreja que adotava todos os ritos e rituais egípcios e de outros pagãos da época, que aceitava integral e literalmente o judaísmo conforme ensinado no Velho Testamento e que desprezava todos os ensinamentos cristãos, menos o nome do seu Mentor, e que passou a chamar a si mesma de Igreja Cristã. 

E o que aconteceu com os ensinamentos de Cristo quando foram organizados? Estaria tal Igreja a praticar o ensinamento de Jesus “não resistais ao mal” ou estaria ainda apegado ao velho ensinamento “ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente”?

A prática do verdadeiro cristianismo eleva o homem adâmico, que exige vingança sobre seu inimigo, do estado de consciência da lei cármica - da mente para a outra consciência da Graça e da Verdade, que revela um Deus de amor no lugar de um Deus de vingança e punição. 

O Deus que Jesus revelou foi de natureza totalmente diferente da do Velho Testamento, e, no trecho do Sermão da Montanha em que aborda a lei cármica, Jesus ensina que o pecado é em si a própria punição, mas não faz nenhuma referência a um Deus que pune.

Explica claramente que, assim como fizermos aos outros, assim será feito conosco, não por Deus, mas de acordo com a lei cármica -  lei da mente do “o que semeares colherás”, sob a qual vive todo ser que se reconhece como humano.

Nossas ações amorosas revertem sobre nós como amor e nossas ações más retornam sobre nós como efeitos maus, pela própria ação em si mesma. Pelo nosso estado de consciência movimentamos a ambos, o bem e o mal. “Com a medida que medires serás medido”, não por Deus, mas pela lei.

Quando odiamos estamos invocando a lei, assim como quando amamos; quando doamos ou repartimos, invocamos a lei, assim como quando ficamos apegados às coisas. 

De qualquer modo, a natureza é testemunha da veracidade dessa lei. Por exemplo, se um fruto não foi colhido ou removido de algum modo da árvore, esta terá dificuldade em frutificar de novo. Não acusaremos Deus por isso. Deus não pune a árvore. É lei na natureza que a árvore deva dar seus frutos para poder continuar a dar mais frutos. 

Assim, sem doarmos, cedermos ou entregarmos os bens, nos tornaremos estéreis, pois a lei diz: “Aquilo que semeares colherás”. E essa lei de semear e colher se aplica tanto aos indivíduos como às nações. Não há meio de evitar os efeitos primitivos das más ações – não que haja um Deus que esteja a cuidar disso, mas porque essa é a lei cármica -lei da mente humana - que é posta em ação pelo agir de cada um.

Tudo isso Jesus revelou na parte do Sermão da Montanha em que disse: “Ouvistes o que foi dito...”

Mas Jesus nunca ensinou que Deus pune, nem mesmo ao ladrão na cruz, nem à adúltera e nem ao cego de nascença. Sempre em nós mesmos somos nós que o trazemos, e não Deus que no-lo inflige. 

Quando o cristianismo se tornou algo organizado, adotou o ensinamento de um Deus punitivo do Velho Testamento, talvez na vã esperança de amedrontar as pessoas para que ficassem boas; porém, o que de fato ocorre é que o mesmo ensinamento, longe de impedir que se faça o mal, é provavelmente responsável por muitos dos pecados cometidos hoje no mundo. 

Os que fazem o mal logo descobrem que não há nenhum Deus que lhes faça qualquer coisa, e essa evidência tampouco os convence de que Deus os punirá um dia pela omissão e pela perpetração. Se ao homem fosse ensinado que é o mal feito que é a própria punição em si, compreenderia a interpretação de Jesus, o Cristo, da lei cármica, e estaria então preparado para aceitar e Seu ensinamento maior de como superar a lei.

É possível superar a lei cármica - lei mental humana, varrer todas as punições de nosso enganos anteriores e viver sob a Graça, mas isso não pode acontecer com nenhum individuo ou com o mundo até que a lei cármica, como o Mestre a explicou, seja aprendida e compreendida. Os feitos carregam em si o seu próprio prêmio e o seu castigo, e não é necessário que haja um ato manifesto, pois o ato em si é apenas a manifestação do pensamento que o gerou.

Assim, por exemplo, não e necessário roubar para trazer sobre si os efeitos da lei cármica - lei da mente , basta pensar em roubar, e de fato nem mesmo isso é n mmecessário – o simples desejo cobiçoso de algo que alguém possua é suficiente para acionar a lei cármica. Não e necessário ferir uma pessoa – ficar irado com ela é o bastante para trazer a lei sobre si.

As pessoas que estão num estado grosseiro de consciência não notam a repercussão da lei cármica - mente humana, tão rapidamente como aqueles que estão no caminho espiritual, que sofrem mais por infrações menores do que aquelas por faltas maiores, pois têm maior percepção do que é certo e do que é errado, e o menor desvio do caminho já aciona a lei.

Para superar a lei cármica- causa e efeito, é necessário em primeiro lugar o reconhecimento de sua existência – que o mal que pensamos ou fazemos tem efeito sobre nós - , e tal descoberta nos impedirá de culpar alguém ou algum conjunto de circunstâncias por qualquer dilema em que venhamos a nos encontrar. Começamos a ver que só nós somos responsáveis. 

Não há um misterioso Deus em alguma parte a atirar nosso erros contra nós, e sim nós mesmos determinamos os resultados da vida, e compreendemos que provocamos o bem e o mal que nos acontecem. Isso nos leva a não mais culpar ou condenar a outrem, a descobrir que ocorreu alguma mudança em nós; descobrimos que o estado de consciência que nos levou a agir erradamente, por descuido, impensada ou mesmo involuntariamente, pode ser mudado.

Mui rapidamente aprendemos o que Paulo descobriu – que há dois seres em nós. Cada um de nós é de fato dual; um é uma criatura que não está sob a lei de Deus, e outro é o Filho de Deus, que tem o Espírito do Pai morando nele: “O bem que eu quero, eu não faço, mas o mal que não quero, eu faço”. 

Parece haver dois de nós, um aborrecendo o outro – um que sabe o que é certo e o outro lutando contra ele; um que quer ser um homem perfeito e o outro que, por um ou outro tipo de limitação, não o pode conseguir. 

Quando percebemos que há um filho de Deus em nós, embora o filho pródigo esteja ainda lutando para sobreviver, começamos a compreender a guerra entre o Espírito e a carne. 

O filho pródigo, ou o homem adâmico - que se reconhece como carnal, que vaga pelo mundo desperdiçando sua substância para, finalmente, mergulhar no abismo da degradação, o que é simbolizado pelo repartir a comida com os porcos, outro não é senão o filho e herdeiro que mais tarde veste a túnica de púrpura e o precioso anel. 

Não se trata de dois homens diferentes, mas do mesmo homem que ora julga-se como carne e que ora se reconhece e se percebe como Espírito à imagem e semelhança de Deus.







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